ATA DA DÉCIMA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 14.04.1988.

 

 

Aos quatorze dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Demósthenes Gonzales, concedido através do Projeto de Resolução n.º 23/87 (proc. n.º 1724/87). Às dezessete horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a MESA: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. William Patterson, Cônsul da Costa Rica, representando, neste ato, o Governador do Estado, Dr. Pedro Simon, e o CODEC; Jorn. Batista Filho, Presidente da EPATUR, representando, neste ato, o Prefeito Municipal; Sr. Tulio Piva, representando o Clube dos Compositores; Sr. Nelson Fachinelli, Presidente da Casa do Poeta Rio-Grandense; Sr. Adão Lopes, representando o Grêmio Castro Alves e a Associação Rio-Grandense de Autores Independentes; Ex-Vereador e ex-Prefeito João Antônio Dib, Sócio Benemérito do Clube dos Compositores; Sr. Demósthenes Gonzales, Homenageado; Verª. Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Casa. A seguir, o Sr. Presidente leu a correspondência recebida pela Casa, relativa a presente solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Verª. Gladis Mantelli, em nome da Bancada do PMDB, discorreu sobre a trajetória percorrida pelo Homenageado, como compositor, político, jornalista e teatrólogo, destacando, em especial, a coerência sempre demonstrada por S. Sa. nas posições e atitudes que regeram sua vida. O Ver. Ennio Terra, como proponente da Sessão em nome das Bancadas do PDT, PDS, PL e PC do B, registrou a presença, na Casa de diversos representantes de entidades culturais da Cidade, dizendo que eles aqui estão para homenagear, com a Casa, a um homem que é um exemplo de luta em prol do desenvolvimento cultural, político e social de Porto Alegre. E o Ver. Artur Zanella, em nome das Bancadas do PFL e do PCB, saudou o Homenageado, dizendo que o título recebido pelo Sr. Demósthenes Gonzales representa o reconhecimento dos porto-alegrenses ao trabalho e à vida de S. Sa. junto a nossa comunidade. Após a Sra. Presidente convidou o ver. Ennio Terra a proceder à entrega do Diploma relativo ao Título Honorifico de Cidadão Emérito e do Troféu “Frade de Pedra” ao Sr. Demósthenes Gonzales. Em continuidade, o Sr. Ayrton Moraes Teixeira recitou poema de sua autoria, em homenagem ao Sr. Demósthenes Gonzales. Após, o Sr. Roque Araújo Campos fez a apresentação dos Senhores Carlos Roberto Campos e Jorge Volci e da Sr.ª Lourdes Rodrigues e Sr. Paulo dos Santos, que interpretaram um número musical. A seguir, a Sr.ª Presidente concedeu a palavra ao Sr. Demósthenes Gonzales, que agradeceu a homenagem recebida. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente registrou as presenças, no Plenário, do Diretor-Geral do Departamento Municipal de Habitação, ex-Vereador Dilamar Machado, e do Diretor-Presidente da Cia. Carris Porto-alegrense, Sr. Nelson Castan. Às dezoito horas e trinta e dois minutos, a Sra. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha e Gladis Mantelli, 1ª Secretária. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Antes de passar a palavra aos oradores da presente Sessão Solene, passo a ler o telegrama recebido de parte do Sr. Governador do Estado, Pedro Simon: “Registro recebimento de convite para a Sessão Solene que será outorgado o Título de Cidadão Emérito ao Sr. Demósthenes Gonzales. Na impossibilidade de comparecer, peço transmitir os meus cumprimentos ao homenageado. Cordialmente, Pedro Simon, Governador do Estado do Rio Grande do Sul.”

Concedemos a palavra à Sra. Gladis Mantelli, que falará em nome da Bancada do PMDB.

 

A SRA. GLADIS MANTELLI: Exmo. Sr. Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Exmo. Sr. Demósthenes Gonzales, nosso caro homenageado: Exmo. Sr. Prof. Willian Patterson, Cônsul da Costa Rica, representando, neste ato, o Sr. Governador do Estado, Dr. Pedro Simon; e também representando o CODEC; Exmo. Sr. Jornalista Batista Filho, Presidente da EPATUR, representando, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal; Exmo. Sr. Túlio Piva, representando o Clube dos Compositores; Exmo. Sr. Nelson Fachinelli, Presidente da Casa do Poeta Rio-Grandense; Exmo. Sr. Adão Lopes, representando o Grêmio Castro Alves e a Associação Rio-Grandense de Autores Independentes; Exmo. Sr. Ex-Vereador e Ex-Prefeito João Antônio Dib, sócio benemérito do Clube dos Compositores.

Ao refletirmos sobre a vida de Demósthenes Gonzales, tem-se a certeza de que ele é partidário da teoria que diz “viver é aceitar cada minuto como um milagre, que não poderá ser repetido”, pois é um homem que nos passa uma enorme sede de vida. E isto se deve ao fato de ser um homem da mudança, da reconstrução, que quer transformar a realidade, mudar e investir, como forma de superar o que é viciado. Esta tem sido a trajetória deste homem, seja como compositor, político, escritor, jornalista, estudioso, teatrólogo e outros tantos papéis, que são apenas faces pequenas de um apaixonado pela vida. Entre as suas qualidades, que não são poucas, uma salienta-se de forma especial: a coerência. A coerência de uma vida dedicada à cultura e à informação, indispensáveis a um País, que se pretende livre, democrático e desenvolvido. Como político, buscou servir à coletividade, o social, quando, infelizmente, boa parte desses homens públicos preocupa-se mais em se servirem de sua condição, do que servirem. Enfim, a coerência de quem encara a vida de frente, com coragem e dignidade. Só os que são coerentes ao longo de suas vidas, conseguem mirar a realidade sem receios. Por uma obra séria e um trabalho probo, Demósthenes, você já não mais se pertence; tuas idéias não são apenas tuas, elas encontram receptividade e acolhida no seio da nossa gente e, doravante, são do teu povo, que tu soubeste tão bem interpretar, captar e entender. Como acontece com todos aqueles que possuem o olhar voltado para o semelhante e não apenas para o seu interior. Definir-te de forma completa é muito difícil. Jornalista não, pois tu não transmitiste as notícias, apenas; tu fizeste notícias, tu foste e és notícia.

Político, forma alguma; a política foi apenas uma das formas que encontraste para servir ao teu povo. Estudioso? Em absoluto. Tu não apenas absorveste o conhecimento, como também o transmitiste.

Dizer que foste compositor, teatrólogo, estaria fazendo apenas uma nomeação muito simples, pois, com 186 músicas gravadas, autor de vários shows e reconhecido nacionalmente pelo teu viver em função da arte e pela luta em prol do mercado de trabalho aos artistas gaúchos, chamar-te apenas de compositor seria dizer muito pouco deste grande artista, que valoriza e exalta os nossos mortais e sempre tão presentes valores, como o nosso saudoso Lupicínio Rodrigues.

Permita-me chamar-te, então, de amigo – meu querido amigo Demósthenes. Permita-me dizer que és um homem que vive o seu tempo, sendo fiel aos teus ideais e aos teus princípios, que procura colocá-los em prática no dia a dia. Descobriste nas coisas simples o grande mistério do viver. És alguém que pensa sobre a sociedade como um todo, em um mundo onde o homem pensa na sua função dentro da sociedade. Esta Casa, felizmente, resgata, hoje, através da iniciativa do Ver. Ennio Terra, o compromisso que tinha de homenagear-te, com muito atraso, pois já recebeste títulos honoríficos de outras cidades, de fora de nosso Estado, como em São Paulo e no Rio de Janeiro. E, somente hoje, recebes da tua própria cidade natal. Ainda bem que, mesmo tardiamente, conseguimos resgatar esta dívida que Porto Alegre tinha para contigo. Quero, com muito carinho, enviar-te um especial abraço, em meu nome particular e em nome da Bancada do PMDB, pela qual me pronuncio nesta ocasião, cumprimentando-te pela honra que ora recebes, agradecendo-te e pedindo-te que continues a ser o exemplo de vida que até hoje foste. Muita obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registro a presença do Sr. Diretor do DEMHAB, nesta Casa, ex-Vereador Dilamar Machado, que nos honra com sua presença, e do Diretor da Carris, Nelson Castan. A seguir, concedo a palavra ao Vereador autor da proposição; S. Exa., neste ato, falará pelas Bancadas, com assento nesta Casa, do PDT, PDS, PL e do PC do B.

 

O SR. ENNIO TERRA: Sr. Presidente, Ver. Brochado da Rocha, nosso homenageado, Demósthenes Gonzáles; amigo e Prof. William Patterson, Cônsul da Costa Rica, representando, neste ato, o Governador do Estado, e do CODEC; Jornalista Batista Filho, Presidente da EPATUR, representando o Prefeito Municipal; Sr. Túlio Piva, um dos astros da nossa musica representando o Clube dos Compositores; Sr. Nelson Fachinelli, Presidente da Casa do Poeta Rio-Grandense; Sr. Adão Lopes, representando o Grêmio Castro Alves e Associação Rio-Grandense de Autores Independentes; ex-Vereador e ex-Prefeito João Antonio Dib, Sócio benemérito do Clube dos Compositores; Verª Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre; e registro ainda a presença do Prof. Hugo Ramires, representando a Estância da Poesia Crioula; o Poeta Chico; o Sr. Julio César Velhinha representando o Gabinete Civil do Governador; Poeta Fraga Cirne, representando o Grupo Ronda; Sr. Presidente, Srs. Vereadores, convidados, amigos, funcionários na Casa. (Lê.)

“Torna-se fácil falar sobre a pessoa e a personalidade de nosso ilustre homenageado Demósthenes Gonzales. O testemunho desta afirmativa comprova-se ao visualizarmos este ambiente lotado de amigos do homenageado, amigos esses que aprenderam a admirar as virtudes e as obras de um homem que soube se destacar em todos os ângulos da vida, tanto social como culturalmente.

Bastaríamos dizer: ‘luzes, câmara, ação...’, como numa filmagem, e estaríamos focalizando um grande astro em cena que serviria de exemplo de dedicação, persistência, luta, abnegação e uma inquebrantável e incansável vontade de servir.

No universo das artes e da cultura, Demósthenes Gonzales é, sem dúvida, um dos astros de maior rutilância no Rio Grande do Sul.

Inverter o amante da música, na bonita acepção da palavra; ‘um boêmio convicto’ compositor, poeta, carnavalesco, jornalista, político e grande colecionador de amigos, que ele venera como se fosse troféu na estante de seu coração.

Muitos loucos trabalharam tanto por sua cidade, como nosso homenageado, no mundo das artes é um incansável ‘virginiano’, pois nasceu a 25 de agosto, é um batalhador, busca sempre seus objetivos não por vaidade pessoal, mas em benefício da comunidade, conquistando nessa tarefa as amizades que hoje reconhecem a sua grande abnegação.

Uma das maiores virtudes de um homem é servir sem esperar recompensa, e Demósthenes tem essa virtude, suas obras bem o demonstram, pois sua sede de saber, de aprimorar-se, sua grande sensibilidade artística, seu lirismo nada mais são do que a vontade inabalável de transmitir todas as emoções de seu coração às pessoas que tem a felicidade de privar de seu círculo de amizade ou de pertencer a seu universo comunitário.

Que bom que seria se os jovens soubessem se espelhar nos teus exemplos e na trajetória de tua vida. Sabes muito bem, que a arte transforma o homem e a vida se torna um palco, onde se reprimem as tendências, humilha à violência e outros desvios de conduta, que atualmente desmoronando o mundo, tudo por falta da palavra “amor”.

Demósthenes..., tens alma de poeta, coração de artista, sensibilidade de jornalista e a ação de um político, não será exagero dizer que és uma grande bandeira artisticamente desfraldada, que vem tremulando sem dilacerar-se nos ventos das desilusões de nossos dias.

Recebes hoje um título, mais um título para a tua coleção, mas este é o que representa o reconhecimento de tua Cidade, de tua querida Porto Alegre, pelo exemplo que destes e pela luta que ainda travas pela arte e cultura de tua terra natal.

Parabéns Demósthenes! ...

                           (aa) Hugo Ramires;

               Poeta Chico Gaudério, representando a Estância da Poesia Crioula;

               Sr.Julio Cesar Velhinho,representando o Gab.Civil do Governador;

               Poeta Fraga Cirne, representando o Grupo Ronda.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido a Verª. Gladis Mantelli a presidir os trabalhos, e a ocupar a tribuna o Sr. Ver. Artur Zanella, S. Exa. Falará, nesta ato, em nome das Bancadas do PFL, e do PCB, com assento nesta Casa.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Ver. Brochado da Rocha, que neste momento se ausenta para outro compromisso; o nosso homenageado, Demósthenes Gonzales; Prof. William Patterson; Jornalista Batista Filho; Túlio Piva; Nelson Fachinelli; Adão Lopes; Dr. Dib; Ver. Gladis Mantelli, que preside neste momento a Sessão; ex-Deputado, Dilamar Machado, Diretor-Geral do Departamento Municipal de Habitação, DEMHAB; Lupicínio Rodrigues Filho, Diretor da EPATUR; Exmo. Sr. Daltro Cavalheiro, que representa, aqui, o jornal “O Balcão”, Diretor que é; Ayrton Teixeira, ex-Secretário dos Transportes, ex-Diretor da Carris; Sr. Dr. Nelson Castan, Presidente da Carris, que são as pessoas de cargos públicos ligados ao Município, e as demais pessoas eu procurarei homenagear, citando o nome de três mulheres maravilhosas, que aqui estão, que são a Vera Lia Cavalheiro, Presidente da ASPACI, a Jornalista Elizabeth e a grande dama da noite, a Lourdes Rodrigues.

Minhas senhoras, meus senhores, em nome do PFL, e em nome do PCB, nós não poderíamos deixar de trazer aqui, também, a nossa homenagem nesta Casa que a maioria conhece, uma Casa de debates, uma Casa de reuniões e votações, e que, praticamente, nos traz, o dia inteiro, aqui, lutando, e as mais das vezes discutindo problemas, até, que não são, assim, muito simpáticos, e questões que não são muito convidativas para as pessoas. Mas chega um momento em que dentro de toda essa luta, dentro de todo esse trabalho, nós trabalhamos também em Sessão Solene, que faz parte das Sessões da Câmara Municipal de Vereadores, com toda alegria, com toda felicidade, porque ao representarmos, nesta Casa, o povo de Porto Alegre, nós temos que traduzir, desta tribuna, alguns valores que têm que ser preservados e exaltados na comunidade.Às vezes aqui aparecem políticos homenageados; aparecem compositores; aparecem poetas. No caso, nós temos, hoje, uma amálgama de tudo isso. Uma das grandes desvantagens de um orador que fala no final é que no início os demais oradores já têm condições de exaltar convenientemente a personalidade do homenageado, e o último que fala, como é o meu caso, normalmente faz a abertura para aquela grande solenidade, para aquele grande discurso que se espera do homenageado e, que tenho certeza, virá no dia de hoje. Mas também é fácil para nós, para a Bancada do PFL e do PCB, dizer: estamos extremamente felizes porque depois que Executivo Municipal de Porto Alegre prestou as homenagens a Demósthenes Gonzalez, depois que o povo já o conhece, já trouxe a sua homenagem, hoje nós temos essa oportunidade, como Vereadores, de dizer ao Demósthenes que hoje é festa aqui na terra, e tenho certeza de que também é uma festa no céu. E eu apontava aqui, para não me esquecer, um verso, até um samba-enredo de carnaval, que se referia a Carlos Nobre, este ano, e que dizia – a escola do meu amigo Jaques Machado, Jacão – “seresteiro, nele Lupi se amarrava”. Eu até apontei isso aqui porque todos aqueles amigos que nós tivemos, e que hoje não estão aqui, e Lupi era o maior de todos eles, tenho certeza de que no céu estão, nesse momento, conversando sobre isso aqui. E tenho certeza de que se alguma lágrima cair do céu, hoje, Demósthenes, será de contentamento daqueles que lá nos acompanham e que esperam muito, como nós esperamos de você, muito ainda do desenvolvimento da arte, no desenvolvimento da música popular brasileira.

Queira receber, por favor, Demósthenes, a nossa homenagem que não é uma homenagem pessoal, mas do povo de Porto Alegre a quem não representamos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Convidamos o Ver. Ennio Terra, proponente desta homenagem, a fazer a entrega do Diploma de Cidadão Emérito ao nosso homenageado, Demósthenes Gonzales.

 

(É procedida a entrega do Diploma). (Palmas.)

 

Solicitamos ao Ver. Ennio Terra que permaneça para que também faça a entrega de um brinde – digamos assim – que a Casa oferece aos seus homenageados. É o Troféu Frade de Pedra, que simboliza a marcha inicial da hospitalidade gaúcha. Nos frades-de-pedra eram amarrados os animais dos forasteiros, antes que os recém-chegados entrassem nas casas onde lhes era servido o chimarrão de boas vindas.

 

(É procedida à entrega do Troféu.) (Palmas.)

 

Neste momento eu gostaria de convidar o Sr. Ayrton Moraes Teixeira para prestar uma homenagem a Demósthenes Gonzales.

 

O SR. AYTON MORAES TEIXEIRA: Sra. Presidente, eu gostaria de ler um poema que fiz para Demósthenes Gonzales na primavera de 1987, depois de pensar sobre os fatos da vida de Demósthenes que ele vinha me contando ao longo do tempo lá na EPATUR.

(Lê.)

“Para Demóthenes Gonzalez

 

Vem, Demósthenes, / Vem contar o que viste, / O que falaste, / O que viveste.

Vem mostrar a alegria / simples, e o encantamento / de ter partilhado antes, / do pensamento, / do verbo e do gesto / de uma geração de gigantes...

Vai, Demósthenes, / sai do teu Menino Deus, / vai correr o teu risco, / vai estudar Direito / no Largo de São Francisco.

Depois, desiste – ainda é tempo – / vai ser boêmio e feliz, / vai ser coerente e valente / com o que escreve e o que diz...

Defende Olga, a Benário / e os outros, / de quem tem tornaste irmão; / - escreve com a alma aberta, / com a pena e o coração –

Vai, meu caro poeta, / ser menino na Ilha Grande / com o Agildo, o Jorge e o Agliberto... / olha pro mar aberto, / sonha com o Brasil livre / e canta tua canção!

Canta o canto que aprendeste, / canta o canto que fizeste, / canta o canto que viveste / na vida, na história / e no amor...

Vai ser boêmio e feliz, / sem mágoas e sem rancor / - vai ser parceiro do Lupi – / pastorear a noite, que é tua, / cantar e falar com as estrelas / vai andar e amar a Lua...”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Solicitamos ao Sr. Roque Araújo Campos que faça a apresentação.

 

O SR. ROQUE ARAÚJO VIANA: Nossos cumprimentos ao Demósthenes. Creio que todos que falaram aqui enalteceram de maneira bem eloqüente e bonita, suas virtudes e grandezas, do querido amigo Demósthenes, colega de tantos espetáculos artísticos.

Este “show” certamente é mais um espetáculo que Demósthenes os tem todos, dentro de si, com tantos anos de atividades artísticas em que eu, particularmente, tive sempre o prazer de participar de centenas deles.

Focalizando o problema do menor, Demósthenes escreveu o “Samba da Criança”, algo que diz muito bem o coração de Demósthenes Gonzales. Carlos Roberto Campos aqui está hoje para esse samba social e Demósthenes, acompanhado do violonista Jorge Volci.

 

O SR. CARLOS ROBERTO CAMPOS: É um prazer participar desta homenagem a Demósthenes. Repetindo, quando se escrever a História da verdadeira música do Rio Grande do Sul, o nome Demósthenes lá vai estar entre os demais compositores de nossa música gaúcha.

Este é um samba, gravado pelo Conjunto Vocal Demônios da Garoa, conjunto paulista, sucesso em 1962, através da qual o homenageamos, talvez não fazendo tanto sucesso quanto o grande grupo paulista. Mas é uma homenagem de coração.

(Canta.)

 

O SR. ROQUE ARAÚJO CAMPOS: Demósthenes Gonzales, compositor, gravado tantas vezes neste País. E um dos seus temas talvez sucesso tem feito, inclusive, em São Paulo, mais do que aqui no Rio Grande do Sul, onde deveria este samba ter marcado uma época mais constante, mas, Demósthenes, com a sua alma aberta para todo o País, tem nos tempos sentido seu samba voltando para os palcos do Sul, com o sucesso que merece.

É letra e música de Demósthenes, “Louca”, um Samba já de sucesso como eu disse, e Lourdes Rodrigues, uma estrela que já nos acompanha há tanto tempo em “shows”, aqui está com o violão do Professor Paulo Santos.

 

(Palmas.)

 

A SR. LOURDES RODRIGUES: Querido amigo Demósthenes Gonzales, receba o nosso carinho nesse dia que é todo seu.

Vejo, aqui, presentes amigos, como o nosso querido Prof. Fabrício; Cantor Jahnsen; Ari Fernando; Adriano; temos também duas grandes sambistas, dois grandes nomes da musica popular brasileira no nosso Rio Grande do Sul, nossa querida Zilá Machado e nossa querida Luiza Helena.

 

(Canta a música “Louca”.)

 

O SR. ROQUE ARAÚJO CAMPOS: Uma Toada de Demósthenes Gonzales, sucesso no Brasil e no exterior, tem mais de uma dezena de gravações, mostrando bem a sensibilidade de notável Demósthenes Gonzales, que é “Noite Escura”. Lourdes Rodrigues e Paulinho Santos para interpretar o tema.

 

(Interpretação da Sra. Lourdes Rodrigues e Paulinho Santos.)

 

A SRA. LOURDES RODRIGUES: Muito obrigado, amigos. E, mais uma vez, o agradecimento, da nossa classe musical, a esta figura maravilhosa, sempre dando o seu apoio, o seu carinho a todos nós. Muito obrigada, Dr. Zanella, pela força. Obrigada a todos. Parabéns, Demósthenes.

 

O SR. ROQUE ARAÚJO CAMPOS: Demósthenes, nosso carinho expressado aqui. Um abraço grande.

 

A SRA. PRESIDENTE: Concedemos a palavra, neste momento, ao nosso homenageado Sr. Demósthenes Gonzales.

 

O SR. DEMÓSTHENES GONZALES: Exmo. Sr. Batista Filho, representando o Sr. Alceu Collares, Prefeito Municipal; Verª Gladis Mantelli, presidindo a Mesa; Srs. Vereadores e demais integrantes da Mesa; meus senhores e minhas senhoras:

Eu confesso que, se eu soubesse que era tão emocionante assim, eu tinha mandado um representante. Mas há certos momentos da vida da gente em que temos que vencer obstáculos, enfrentar barreiras, vencer até a emoção e dizer aquilo que profundamente nos atinge o coração. E, acostumado a escrever, não aprendi a fazer um discurso. Do grego Demósthenes eu só herdei duas coisas, o nome e a gagueira. Mas eu tenho uma admiração muito profunda e grande pela função da vereança. Fui Vereador há algum tempo já, no Município de Cachoeirinha, e também fui suplente no Município de Petrópolis, no Estado do Rio, e pude sentir que o Vereador é, antes de tudo, um forte, como diria Euclides. O Vereador é aquele que apara tudo é o zagueiro, é a trincheira; uma receita médica para aviar, falta água, o emprego sonhado, a dor de barriga do filho, os problemas da sogra, tudo isso quem enfrenta é o Vereador. Eu não sabia que a vereança fosse apenas uma função heróica, e hoje estou vendo que ela é, também, generosa, porque a generosidade dos Srs. Vereadores, através da proposição do Ver. Ennio Terra, me concede a honra de ser Cidadão Emérito da minha Cidade, da minha querida terra. Como Weber, que queria fazer uma valsa e não foi além, ficou apenas fazendo um convite à valsa, ou como aquele personagem de Machado de Assis, que queria fazer uma ópera, mas não passavam de mazurcas, eu também sonhei grande. Não sonhei sonhos de riqueza, de ambição, de fortuna, não; eu sonhei com um mundo bom, com um mundo melhor, sem fome, sem miséria, um mundo sem fronteiras, sem dor, com muita paz e muito amor. (Palmas.)

Por isso, sofri na própria carne o peso da intolerância e do arbítrio. Mas, acima de tudo, é importante viver. E foi justamente essa vontade muito grande, essa fixação no ofício de viver, que me fez sempre eu me voltar para a comunidade, principalmente através que eu sabia fazer: um pouquinho de música e o jornalismo. Procurei, aí, sempre dar à minha comunidade e aos meus conterrâneos um pouco de tudo o que pudesse beneficiar e alegrar, mostrando que, apesar de tudo, vale a pena viver.

Hoje é, para mim, um dia de grande ventura e de grande felicidade. De todo o coração, agradeço a todos vocês. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Cabe a quem está presidindo os trabalhos fazer o encerramento da Sessão, como uma norma protocolar, e eu faço com muito prazer, neste momento. Apesar de já me ter pronunciado em nome do meu Partido, no início desta Sessão e o fiz, aí também, protocolarmente, com um discurso escrito, pensado faço agora um encerramento com o coração. Acho que as palavras com o coração são sempre mais tocantes e acho que o Demósthenes merece algumas coisas tocantes, sinceras e afetivas. Esta Casa, eu já tenho dito “n” oportunidades, não é uma Casa perfeita porque, afinal, nós somos seres humanos, cometemos erros. Mas ela também comete acertos. E este é um acerto, como também já tive oportunidade de dizer, tardio, porque já deveria ter acontecido antes; esta Casa já deveria ter homenageado o Demósthenes há muito mais tempo. Mas, nós hoje, tivemos aqui a grata felicidade de ver os amigos de Demósthenes com ele, pessoas que acompanham a sua vida, que o apreciam, que o amam e que vêem nele exatamente aquilo que ele tem de melhor, que é a sua alegria de viver. Ele quer um mundo melhor e continua acreditando nisto. Acho que todos nós, de alguma forma, também o queremos e é importante que, neste momento, estas coisas sejam colocadas. A vida vale a pena ser vivida, por mais doida e sofrida que ela seja.

Parabéns, Demósthenes, por esta tua vontade de viver. Muito obrigado.

Estão encerrados os trabalhos

 

(Levanta-se a Sessão às 18h32min.)

 

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